As cigarras cantam no verão.
Dizem que as cigarras não trabalham e só pensam em diversão.
"Taphura" é o nome de um tipo de cigarra. Assim como esse projeto de Eduardo Politzer, feito no verão, como diversão.
A cigarra em questão trabalhou como uma formiga, produzindo seus próprios samples e montando suas colagens. Um trabalho tão digital feito apartir de elementos tão orgânicos; acústicos processados, falas de crianças, delays, violões, ruídos, peças de bateria.
"Incidentalidades".
É tudo tão natural para Eduardo, alguém que trabalha fazendo trilhas sonoras para imagens que por horas existem e, em outras, nem pensam existir. É o som de um ambiente que transmuta os ouvidos em olhos atentos e os olhos em telas de cinema. Música com batimento. 24 quadros por segundo. Na melhor tela que existe.

Seus ritmos se confudem com o ritmo do compositor e se tornam nosso próprio tempo quando fechamos os olhos e abrimos o coração pro som.
"Taphura" está disponível em política de Creative Commons. É de sua natureza essa troca. Tal qual um Moitará, uma moeda de troca sem valor monetário, uma moeda justa, espiritual (no sentido não-esotérico).

Há músicas como "Folha" que parecem o soar que um indio escuta ao beijar o chão com o ouvido. Há, em "Hipnose", a dança de uma mulher nua e sem batom numa fresta de luz.
Há também uma tarde solitária num asfalto chuvoso de uma cidade na serra em "Eumim"...
Músicas que se tornam nossas. São como cenas de road movies da nossa própria vida.
Mas há também ironia como em "Marketing will kill the music", "Iron Samba", "Agora Realmente Não Tem Volta", "Ukeloo"... os temas são todos muito curtos. São (e aí me perdoe a pretensão na escolha das palavras) "biscuits" viajantes e ao mesmo tempo "anti-haribôs".
Música de sound designer? indeed.
Música para o coração? hell sim.

Seus cortes, repetições e ambiências nos conquistam ao acessarem nossas próprias memórias. É o verdadeiro "Random Access Memories". É uma jornada Gondryana, um "Eternal Sunshine" sublimado por nossas próprias experiências.
É o som ao nosso redor.
É o som ao nosso.
É o som.
Jonas Sá

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